O padre Robson de Oliveira Pereira, de 47 anos, confessou em áudio que integrava um esquema para burlar contratos e sabia do risco de ser preso pela polícia. O ex-reitor do Santuário Basílica de Trindade (GO) é investigado por supostos desvios de dinheiro de doações de fiéis. “Sou o chefe da quadrilha”, disse ele, em um trecho.
A gravação, divulgada pelo Jornal da Record nesta quarta-feira (24), foi feita pelo próprio padre. O arquivo foi apreendido pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MPGO), e periciado com autorização da Justiça.
Um pedido de prisão preventiva por corrupção ativa contra Pereira e outras quatro pessoas foi apresentado pela Polícia Federal na quarta-feira passada (17) ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Na reunião gravada, o padre e a equipe jurídica buscavam formas de tentar mascarar a ilegalidade em contratos de compras realizadas em nome de terceiros pela Associação Filhos do Pai Eterno, presidida por Pereira, antes de ele ser afastado da instituição. As investigações foram feitas pelo MPGO na Operação Vendilhões, em agosto de 2020.
Tanto o padre quanto sua equipe reconhecem, durante a reunião, que os contratos poderiam acabar investigados pelas autoridades, pois seria difícil explicar a relação da associação com negócios e investimentos imobiliários.
“(…) Eu estou dando legitimidade para uma coisa ilegítima, porque eu considero que foi estelionato aquilo lá. Os caras lá já falavam: olha, você vai passar, por fora, para mim, tanto. Eu, de bobão… complicado isso aqui. Não está bom, não. Isso aqui é a mesma coisa de estar assinando um mandado de prisão”, disse o padre na gravação.
“Ô, gente. O meu medo nessas coisas aí chama-se… apuração dos fatos. Quando for apurar fatos, olhando nossa contabilidade, olhando nossa contabilidade do Júnior, do Gleison, vão ver que eles deram outra destinação aos valores, que não bate com datas e nem com nenhum tipo de… não tem jeito, gente”, continuou Pereira.
Na época da gravação, o padre já era investigado por um suposto desvio de valores de doações de fiéis à Afipe, que deveriam ir para a construção do novo Santuário Basílica de Trindade. Pereira administrava um fundo de R$ 2 bilhões para esse fim.
No lugar de ir para o templo, no entanto, o dinheiro foi destinado a aplicações financeiras e compras de fazenda e imóveis de luxo. Mesmo com a investigação em curso, o STJ manteve trancados, em maio, o inquérito policial e a ação criminal contra o padre.
À reportagem, o advogado Klaus Marques negou conhecer os fatos e disse que a Afipe foi pautada pela legalidade, pontuando que agiu conforme o que estabelece o Estatuto da Advocacia. Já a Afipe disse que nenhuma pessoa citada tem relação com a associação.
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