Ansiedade, angustia, tristeza, frustração, sensação de fragilidade e culpa são sentimentos frequentes dentre pessoas que não conseguem ter filhos naturalmente. O sonho de ter filhos e constituir família é algo natural da espécie humana. No entanto, 17,5% da população adulta global é afetada por algum problema de infertilidade, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. A infertilidade conjugal é caracterizada quando não ocorre gravidez em um casal que mantem relações sexuais com frequência sem usar medidas de proteção contraceptiva por um período de um ano ou mais.
É fundamental buscar ajuda especializada para não alimentar esses sentimentos negativos sobre a gravidez que não vem, evitando que o quadro evolua para uma depressão, inclusive o próprio estresse pode agravar a condição infértil, uma vez que ele causa desajustes hormonais que interferem na ovulação. Além de todos os impactos na saúde mental, a condição de infertilidade pode afetar o relacionamento conjugal e as relações sociais, repercutindo também em todos os aspectos da vida do casal até no âmbito profissional.
“Conversar com o companheiro e com pessoas próximas que possam ajudar, buscar ajuda médica especializada e suporte psicológico são medidas que podem ajudar a enfrentar e resolver o problema”, explica a ginecologista Ana Cláudia Trigo, especialista em Reprodução Humana da equipe do Cenafert – Centro de Medicina Reprodutiva. A médica destaca a importância da equipe multidisciplinar para acolher os pacientes nos centros de reprodução humana.
Para a psicóloga Liliane Carmen Souza dos Santos, da equipe do Cenafert, o acompanhamento psicológico é importante para os homens e mulheres que estão diante do diagnóstico e tratamento de infertilidade, pois auxilia os casais a lidarem com os sentimentos e emoções que surgem nesse processo, além de possibilitar estratégias de enfrentamento que beneficiam tanto a saúde emocional quanto a fertilidade. “Ter práticas de autocuidado que incluem, alimentação saudável, higiene do sono, descanso, atividades físicas, autoconhecimento e conexão social, traz diversos benefícios para a saúde física, mental e contribui positivamente para a qualidade de vida, saúde e bem-estar do casal que está tentando ter filhos”.
Responsabilidade compartilhada
A médica reforça a importância de entender que a responsabilidade da infertilidade é dividida pelos dois sexos e a investigação para identificar e tratar o problema com mais precisão deve ser realizada por ambos. “O problema pode estar só no homem, só na mulher ou em ambos. Quando um casal não consegue ter filhos de forma espontânea, ele precisa buscar ajuda especializada e a investigação da condição de infertilidade conjugal deve ser feita sempre pelos dois,” esclarece Ana Cláudia.
Cerca de 35% dos casos de infertilidade podem ser atribuídos à mulher, outros 35% são de responsabilidade do homem, 20% estão relacionados a ambos e 10% são de causas desconhecidas, de acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA).
Além do relógio biológico, vários fatores podem comprometer a saúde reprodutiva das mulheres, como endometriose, ciclos menstruais irregulares, menopausa precoce, alterações hormonais, dentre outros. “A maternidade é um desejo natural de boa parte das mulheres. Com todos os avanços da medicina reprodutiva, as possibilidades de conseguir tratar a infertilidade e obter uma gravidez são consideráveis”, afirma a especialista.
No caso dos homens, apesar de todos os avanços, ainda existe muita desinformação. Muitos acreditam que infertilidade masculina é sinônimo de falta de virilidade ou falta de ereção e criam resistência em buscar ajuda especializada. “É preciso lembrar sempre que essas disfunções sexuais não podem ser confundidas com a condição de infertilidade, que, na verdade, está relacionada a problemas na qualidade e quantidade dos espermatozoides”, esclarece a médica.