Enquanto os baianos vivenciam o aumento dos casos de dengue no estado, outra arbovirose vai, aos poucos, se alastrando pelo território. Trata-se da febre do oropouche (FO), que contaminou 47 pessoas neste ano, quase todos no sul do estado. Salvador, que registrou o primeiro caso nesta semana, é a única exceção. Para o virologista Gubio Soares, que coordenou a equipe que descobriu a doença na capital em 2020, a transmissão acelerada já configura surto na Bahia.
A pessoa contaminada na capital baiana viajou para o município que registra mais casos de febre oropouche na Bahia, Teolândia. “Imediatamente após a notificação do caso, foi iniciada a investigação epidemiológica e foi possível constatar que o residente de Salvador teve história de viagem recente ao município baiano de Teolândia, que vem registrando ocorrências de casos positivos para Oropouche”, disse a Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Apesar de o Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen-BA) não ter registros de casos de oropouche em anos anteriores no estado, o primeiro caso da doença em Salvador foi identificado em 2020. O vírus foi detectado na urina e saliva de um paciente pelo Laboratório de Virologia do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia (ICS/UFBA). De lá para cá, outros dez casos foram identificados, segundo Gubio Soares, coordenador do laboratório.
A doença é comum no Norte do Brasil, onde o Amazonas decretou surto depois de ultrapassar os 2 mil casos, mas tem se espalhado, com registros no Piauí, Rio de Janeiro, Santa Catarina, além da Bahia. No Brasil, já são 3.354 casos da doença. Em todo o ano passado foram registrados 832, de acordo com o Ministério da Saúde.
O mosquito maruim (culicoides paraensis), conhecido também como mosquito-pólvora, é o principal transmissor do vírus. “É um surto. Temos um vírus circulando com uma intensidade que nunca circulou antes. Não existe kit diagnóstico comercial e só o Lacen está fazendo os testes”, afirma o virologista Gubio Soares. O diagnóstico é feito através da análise laboratorial.
Não existe tratamento específico para a doença, e os pacientes devem permanecer em repouso, com tratamento dos sintomas e acompanhamento médico. Usar repelente e evitar água parada são as principais formas de evitar a proliferação do mosquito.
A oropouche tem sintomas parecidos com a dengue: febre alta, dores no corpo, calafrios, dor de cabeça e manchas na pele. Eles duram, em média, uma semana. Não é comum que a doença evolua para casos graves. No entanto, uma adolescente de 15 anos morreu em Manaus em fevereiro deste ano vítima de infecção simultânea de oropouche e covid-19.
Até agora, as cidades baianas com registros de casos são: Teolândia (22), Laje (10), Valença (10), Mutuípe (2), Taperoá (2) e Salvador (1). Especialistas acreditam que o número de casos deve ser maior. Como os sintomas são semelhantes ao da dengue, eles dizem que há subnotificação da doença.
“Sem o diagnóstico laboratorial é praticamente impossível dizer que se trata de febre oropouche ou dengue. Mas uma coisa tem chamado atenção na literatura: em torno de 60% dos pacientes descrevem que têm um quadro sintomático, ficam um ou dois dias sem sintomas, e retornam ao quadro dos sintomas”, disse Felipe Naveca, chefe do Núcleo de Vigilância de Vírus Emergentes da Fiocruz. A doença foi um dos temas debatidos no Seminário Arboviroses: Desafios e Perspectivas na Abordagem, na quinta-feira (11).
Fonte: Forte na Notícia